Ultimamente, tenho ouvido de alguns rotarianos posicionamentos contrários à criação dos Rotary Clubes Virtuais, que são os clubes cujo funcionamento se baseia na utilização dos recursos disponibilizados pela Internet, também chamada de rede mundial de computadores.
Os companheiros argumentam que se trata de um modismo, fruto do processo de globalização e da busca intempestiva do uso da tecnologia pela tecnologia. Afirmam, com convicção, de que o clube tradicional nunca será substituído pelo Virtual; de que as reuniões presenciais nunca acabarão e que o Rotary sem companheirismo não tem sentido.
Estes e outros argumentos têm origem no desconhecimento dos fatores que motivaram o Rotary International a autorizar o funcionamento dos clubes virtuais. O primeiro esclarecimento que precisa ser feito é de que os clubes virtuais não foram criados para substituir os clubes tradicionais (presencial). Eles vêm abrir as portas da instituição para uma parte da sociedade que, possuindo as características do voluntariado no ideal de servir, estava impedida de fazer parte da família rotária, pois não tinham condições de cumprir com os requisitos de freqüência (dia e hora marcados para participar das reuniões) definidas nos estatutos do Rotary International. Desta forma, os clubes virtuais são complementares, e não substitutos. São uma ampliação da oportunidade de servir e não a extinção das formas atuais.
O segundo ponto de reflexão, diz respeito à falsa idéia de que esta abertura para o ingresso de novos colaboradores é uma atitude inédita em Rotary. Para comprovar esta afirmação, convido os companheiros a relembrar a nossa história e a responder a seguinte pergunta: Quem poderia fazer parte do Rotary, quando a nossa instituição foi criada em 1905 ?
O artigo 5º do Estatuto do Rotary International trazia a resposta a esta pergunta, definindo claramente as características que uma pessoa devia ter para ser admitido no quadro social de um Rotary Club, quais sejam: Ser adulto, do sexo masculino, de caráter ilibado, com boa reputação comercial, exercendo profissão útil, desempenhando importante função executiva, etc....
A condição de ser adulto do sexo masculino, que limitava a participação das pessoas em nossa instituição, ficou estabelecida por mais de meio século. Em 1959, o Presidente do RI, Harold Tomas, observou em suas viagens, que prevalecia entre os rotarianos o sentimento de que a capacidade do Rotary para influenciar a juventude não tinha sido devidamente aproveitada. As evidências mostravam que os jovens poderiam se constituir em fonte revitalizadora dos Rotary Clubs, através de novas idéias de prestação de serviços, do suporte a projetos na comunidade, além de se constituírem em potenciais candidatos a tornarem-se futuros rotarianos.
Assim, em 1962, as portas da instituição foram abertas pela primeira vez, quando o Rotary International resolveu patrocinar o Programa de INTERACT, permitindo que jovens entre 14 e 18 anos de idade pudessem participar ativamente da vida rotária. Hoje, 43 anos depois da fundação do primeiro clube de INTERACT (Melbourne High School - Flórida/EUA), registramos com satisfação um contingente de 233.680 interactianos, reunidos em 10.160 clubes no mundo, sendo que destes, 675 clubes estão no Brasil.
O segundo movimento de Rotary, no sentido de ampliar a participação da sociedade em seu quadro social, ocorreu em 13 de março de 1968, com a fundação do primeiro ROTARACT (Rotaract Club de North Charlotte, EUA), permitindo que jovens entre 18 a 30 anos de idade pudessem trabalhar em prol das comunidades. Hoje são 180.987 rotaractianos em 7.869 clubes (no Brasil 713 clubes).
Apesar da nossa instituição, nesta época, já ter permitido o ingresso em seu meio de uma parcela significativa da sociedade, ainda existia um contingente importante de potenciais colaboradores, para os quais as nossas portas ainda se encontravam fechadas.
Foi somente em 1989, que o Conselho de Legislação aprovou a ementa que abria pela terceira vez as portas da comunidade rotária, permitindo o ingresso de muheres como sócias de Rotary Clubes. Hoje existem 152.352 rotarianas no mundo, sendo que no Brasil elas somam 6.931 valorosas trabalhadoras.
Em setembro de 2001, registramos mais uma ação de RI no sentido de ampliar a participação em seu quando social, quando o seu Conselho Diretor aprovou, dentro do conceito de “Rotary Clubs Novos Modelos”, o Projeto do primeiro Clube Virtual: o Rotary E-Club ONE no Distrito 5.450, no Colorado/EUA., que hoje possui cerca de 300 sócios. Dois anos depois, em fevereiro de 2003, o Conselho Diretor do RI, em sua resolução 273, aprovou a criação de mais 16 Clubes Virtuais, sendo 2 deles no Brasil, o do Distrito 4.500 e o do Distrito 4530 (Rotary E-Club da Comunidade BR). Os dois hoje contam com 87 sócios.
A criação dos Clubes Virtuais, portanto, é mais um passo dado por Rotary International no caminho de ampliar a participação da sociedade nas suas atividades, permitindo trazer aos quadros de Rotary uma gama de novos profissionais, de forma a aumentar a cadeia de voluntários a serviço da comunidade.
O mundo não para e o Rotary continua caminhando na longa estrada do servir. Mais recentemente, as portas da família rotária foram novamente abertas quando o Conselho de Legislação de 2004 aprovou a ementa de resolução 04-129, que reconhece os clubes de ROTAKID, os quais promovem desenvolvimento de espírito de liderança e altruísmo entre as crianças de 8 a 14 anos. O 1º clube foi fundado pelo Rotary Club de Águas de São Pedro (Distrito 4.590)
Diante deste contexto, não é correto continuar pensando que os Rotary Clubes Virtuais são um modismo tecnológico e nem que foram criados para acabar com os clubes presenciais. Ao contrário, eles são mais um passo histórico dado por Rotary no sentido de acompanhar a evolução da sociedade, ampliando o seu elenco de colaboradores e renovando suas forças.
Ao albergar todos aqueles que desejem ser voluntários do servir, o Rotary que já era internacional, passa a ser global, universal, sem fronteiras...
Para finalizar, reproduzo a frase de um importante rotariano, que em fevereiro de 1945, na Revista The Rotarian, escreveu o seguinte:
“Mudanças caleidoscópicas estão acontecendo, muitas delas à nossa revelia. Às vezes o máximo que podemos fazer é segurar-nos à margem deste mundo em mutação. O Rotary deve continuar a ser pioneiro sob pena de ficar estagnado na retaguarda do progresso”. Paul Percy Harris.
*José Amin Cury Nasser
Rotary Club de Brasilia – Distrito 4530
Presidente 2005-06
www.rcbrasilia.cjb.net
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