quarta-feira, 22 de julho de 2009

VOCE ESTÁ PRECISANDO DE UM BOM ADVOGADO?

Conta-se, do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça, no tempo em que um fio de cabelo do bigode valia compromisso assumido, que um mascate ou vendedor ambulante, daqueles que tinham quase de tudo, tais como: tesouras, máquinas de cortar cabelo, navalhas, agulhas, linhas, carretéis e todo tipo de remédio, tanto para animais irracionais quanto para os racionais, dentre outras bugigangas, circulava pela zona rural de Maracangalha.

Pois bem, este mascate, mais conhecido por Zé Festeiro, pois tinha uma promessa feita a seus superiores celestiais que, em suas andanças, guardaria todo nome de santo que ouvisse falar e, no final de cada ano, faria uma festa e acenderia uma vela para cada um dos guardados/anotados santos e santas, daí o apelido herdado.

E, talvez por esta devoção e por esta penitência, Zé Festeiro conseguia vender mais do que os seus concorrentes e, a cada ano, aumentava o número de velas...

Mas como não há bem que dure para sempre e mal que nunca se acabe, Zé Festeiro teve um contratempo em sua vida, que aconteceu exatamente assim:

Passando por uma região de um rico fazendeiro e já passado da hora de almoçar, resolveu pedir alimentação naquela casa. O fazendeiro, que já conhecia a fama do Zé Festeiro e pensando em lhe tirar a rota de venda e colocar ali uma pessoa sua, resolveu lhe pregar uma peça e armou a seguinte situação:

- Zé Festeiro, o meu almoço já se findou e não sobrou nem pro periquito, mas tenho aqui uma meia dúzia de ovos e se você quiser mando lhe preparar os tais.

- Muito obrigado amigo, vou aceitar porque estou com bastante fome e a próxima parada já vai ser de noitinha e, até lá possa dar uma “branqueira” de fraqueza. O senhor me manda prepará-los bem cozidos?

- Não vai demorar...

Ovos cozidos e Zé Festeiro de bucho suprido, perguntou ao fazendeiro o valor da refeição...

- São dez mil réis, Zé Festeiro...

- Dez mil reis? O senhor está brincando comigo! Os ovos não valem nem 1% de disso!

- É, mas você não perguntou o preço antes e o valor é este mesmo.

- Mas isso é uma exploração! O senhor está se aproveitando da minha situação! O senhor está querendo acabar comigo, com o meu negócio!

- Pense como quiser... este é o valor que você me deve e fim de papo!

- Mas senhor, nem se eu lhe der todos os meus valores que tenho aqui comigo, não dariam para saldar esta dívida! Além do que eu ficaria sem material e dinheiro para continuar meus negócios!

- Pois bem, Zé Festeiro, para não dizer que não sou nem um pouquinho camarada e sabendo que palavra sua não volta atrás, vou te fazer uma proposta:

No ano que vem você certamente estará passando por aqui de novo e, nesta oportunidade, me traga o dinheiro e tudo estará resolvido.

- É, não tenho outra alternativa senão aceitar...

Passaram-se os tempos e Zé Festeiro se demorou um pouco mais de um ano para retornar àquela fazenda e, neste período, fez a sua festa para seus padroeiros mas sempre preocupado com aquela dívida.

Tanto que, naquele ano, se esqueceu de anotar o nome de dois santos que ouvira seus clientes pronunciarem e, na hora de acender as velas, sobraram duas dos tais santos esquecidos.

Como fazer? Nunca havia ocorrido aquilo com ele... logo agora que ele iria precisar de todos para tentar, mais uma vez, sensibilizar o seu credor...

Queimou pestanas, mas não houve jeito de se lembrar dos tais santos... e foi aí que teve a idéia de acender aquelas duas velas para o anjo do mal, para o capeta, para o satanás, com a seguinte justificativa: “ele” também é um anjo e tem a sua serventia na terra... sem “ele” o vivente não se apegaria a Deus e seus santos e santas, por não existiria o mal, a inveja, a doença, o castigo e toda essa gama de maldades de somos capazes de fazer aos nossos semelhantes e não semelhantes... é por medo “dele” que nós preferimos Deus, que nós optamos pelos caminhos que Jesus Cristo nos traçou, portanto, estas duas velas são para “ele”.

Mas voltemos à dívida dos ovos... chegando na fazenda, Zé Festeiro, desta vez, devidamente alimentado em outras paragens, chamou o fazendeiro e foi logo dizendo:

- Vim trazer o seu dinheiro, embora isso vá me custar anos e anos de trabalho.

O fazendeiro vendo que ficaria só com o dinheiro e não com a rota de Zé Festeiro, maquinou o seguinte:

- Zé Festeiro, você se atrasou para o pagamento e agora isto requer um novo cálculo, pois, se eu tivesse colocado aqueles ovos para chocar, deles eu teria hoje muitas e muitas cabeças de frangas, frangos e muitas dúzias de ovos, de modo que a dívida dobrou de tamanho e hoje você me deve vinte mil réis, sem contar os valores miúdos.

- O senhor é doido! Isso é o maior absurdo que já ouvi em toda minha vida! Não vou pagar!

- Bem, Zé Festeiro, isso nós veremos na Justiça... pois pretendo processá-lo...

- Pois o senhor faça isso! Veremos quem tem razão!

Depois deste entrevero, Zé Festeiro ficou sabendo que ele não teria muita chance na comarca da questão, tendo vista a amizade do fazendeiro com o juiz do lugar e também pelas posses do seu adversário que teria condições de sobra para contratar os melhores advogados da região e estes, certamente, encontrariam um meio de obter ganho de causa para o seu cliente.

Cabisbaixo e desanimado com o desfecho daquele processo, encontrou-se, por acaso, com um senhor montado em um cavalo muito bem arreado e de prosa com o tal sujeito, acabou por lhe contar todo o seu drama.

Para sua total surpresa, aquele senhor do cavalo era um advogado e se propôs a lhe defender sem cobrar nada.

Agora, de advogado constituído e bem mais animado após aquela prosa, chegou ao local do julgamento cerca de uma hora antes do marcado para as ultimas recomendações de seu defensor... mas o homem não chegava...

Impaciente, andava pra lá e pra cá, olhava o relógio e... nada.

Já passando alguns minutos da hora aprazada pelo juiz, Zé Festeiro já se preparava para se defender pessoalmente, senão perderia a questão de bandeja para o adversário e... eis que adentra o recinto o seu advogado, correndo e afobado, com as mãos todas sujas de terra e falando a todos, mas principalmente ao juiz:


- Meritíssimo, mil desculpas pelo atraso, mas é que eu estava plantando um feijão cozido e perdi a hora!

Responde o juiz:

- Plantando feijão cozido? Que mentira deslavada! Feijão cozido não nasce!

- E ovo cozido, Meritíssimo? Gera descendentes?

Silêncio geral... Não restou outra alternativa ao juiz senão decidir o ganho de causa ao Zé Festeiro, que teve que pagar somente o que a meia dúzia de ovos valia.

Do lado de fora, o Zé Festeiro quis saber mais de seu salvador e falou:

- Doutor, nem sei o que lhe dizer...

- Não diga nada, Zé Festeiro... basta acender para mim, de novo, as duas velas que sobrarem de suas festas...

Paulo Tárcio Martins

Membro da Academia Morrinhense de Letras

Assessor de gabinete do vereador

Dr. Tércio G. de Menezes

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