terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ética e a Crise Global

Artigo enviado ao Companheiro EGD Philemon Xavier


O que Rotary tem a ver com a crise global? Qual é o papel que Rotary deve desempenhar nisto tudo? Certamente é prudente não trazer a discussão em ambiente rotário de assuntos que desagregam tais como política partidária, religião, etc. Entretanto, sempre que o tema envolver as menções presidenciais, entendo que temos obrigação de nos posicionar – são valores que defendemos e que precisam ser explicitados para a comunidade. Buscar as causas da pobreza sem coloração ideológica, ou abandonar a cambiante lógica de idéias substituindo-a pela invariável lógica da vida é uma tarefa, sim, para Rotary. Se não pudermos defender nossos valores, qual é o sentido da instituição?

O mundo assiste nos dias atuais, perplexo e impotente, a escândalos nos parlamentos e burocracia de governo. A questão é: mudar os poderosos de plantão muda alguma coisa? A verdade é que este curioso bípede, que é o ser humano, vem sendo catequizado há pelo menos 4000 anos, desde o patriarca Abrahão, origem das 3 principais religiões monoteístas, mas o egoísmo parece predominar – isto não é uma reclamação, mas uma constatação. Se todos obedecessem aos mandamentos religiosos, a convivência humana estaria resolvida. Contudo, o problema é de natureza sistêmica, urge retirar esta quantidade enorme de recursos financeiros do alcance da vontade humana.

Definitivamente Rotary não é uma instituição de caridade, embora tenhamos orgulho dos milhares de projetos humanitários desenvolvidos por rotarianos ao redor do mundo – penso que somos, sobretudo, a consciência da comunidade –, resgatando valores de nossos fundadores. Discussão da crise global é, antes de tudo, de natureza ética – a invariável economia de mercado versus a questionável economia de comando. A presença do governo na economia se mostrou necessária somente porque três setores não andam sozinhos: agricultura, saúde e educação. Governos do mundo inteiro têm que estimular, de alguma forma, esses setores. É surpreendente esta afirmação, mas tirando as funções que o governo atua como alcaide ou síndico da comunidade ou prefeito tais como melhorias de interesse comum: estradas, pavimentação, esgotos, etc, a intervenção legítima do governo na economia se prende a esses três setores, as demais intervenções são todas conseqüências dessas três. Por uma ironia da natureza, esses três setores são exatamente os que conferem igualdade de oportunidades – pessoas precisam se alimentar e ter acesso aos sistemas de saúde e educação.

Economia de mercado não produz o que é necessário, mas o que é rentável – obra da saudosa dama da economia européia Joan Robinson, identificou este paradoxo com muita clareza, embora não tenha apresentado solução. Este paradoxo do capitalismo, só será superado com um novo pacto social, onde trabalho é um processo de transformação de energia humana em energia física ou intelectual, para que esta transformação possa ocorrer, comida, saúde e educação para todos os dependentes devem ser assegurados a priori, vale dizer, é condição sine qua non para haver trabalho humano e não pagamento por trabalho executado. Significa reconhecer que a fome e a saúde das pessoas não variam conforme forças de mercado, mas são necessidades biológicas, ou ainda, é a lógica da vida. Ninguém vem ao mundo para viver de caridade e não iremos fortalecer os fracos para enfraquecer os fortes. Isso não é um apelo de natureza emocional filantrópico, mas a única forma de viabilizar a retirada do governo do processo econômico.Novamente aqui estamos falando de ética - trata-se de uma constatação da natureza humana –, é preciso avaliar a criação para entender o Criador – estes 3 setores (comida, saúde e educação) são interdependentes, não acumuláveis e independem da vontade humana. Tal como um veículo que precisa de combustível, a natureza humana precisa de comida e saúde para que possa haver trabalho e educação, para que possa haver progresso. Isso pode ser colocado como um contrato de adesão voluntária, em que a iniciativa privada assume essas responsabilidades sociais, comprando a livre preço de mercado – evidentemente para fechar a equação econômica o governo reduz a tributação referente a estas novas responsabilidades sociais assumidas pelos empresários. Desta forma, o governo pode se retirar da economia, pois a agricultura, a saúde e a educação passam a ser auto estimuladas. Vamos chamar o regime produzido por este pacto de humanismo, em contraposição a capitalismo e socialismo, e avaliar as profundas alterações introduzidas. Com a economia livre e o governo fora da economia, teremos o pleno emprego produtivo – a geração atual e muitas anteriores não conhecem o que isso significa –, salários tendem a subir naturalmente pelas forças de mercado, não será necessário fixar um salário mínimo, todas as equações econômicas se invertem, some a inflação e ficam inviabilizados os conflitos armados.

A qualificação para uma sociedade democrática será sufrágio universal – voto livre e soberano -, imprensa livre e, sobretudo, desconcentração de recursos ao alcance de burocratas de governos.Estaremos muito próximos das condições dos primórdios da revolução industrial do início do século XIX previsto por Adam Smith só que introduzindo a crítica não contestada sobre o trabalho humano de Karl Marx – força de trabalho é preservada e não destruída. Novamente aqui se trata de questão ética. Esses 2 pensadores são clássicos, vale dizer, são como uma sinfonia de Beethoven ou uma estátua de Michelangelo, a excelência de suas obras não tem prazo de validade, são eternos. Serão apreciados daqui a 1000 anos, portanto não se trata de saudosismo extemporâneo, mas de valorizar a ética em estado puro. Com isso,estaremos viabilizando as bem intencionadas Declaração Universal dos Direitos Humanos, da criança e do adolescente e os objetivos do Milênio – firmaram um consenso em torno de idéias irrecusáveis, porém esqueceram de dizer quem paga a conta!!

Que ninguém se iluda, os modelos de convivência humana atuais convergem inevitavelmente para um estado totalitário. Complementando Marx: “Trabalhadores e burgueses do mundo inteiro, uni-vos”. Em nome da ética, não podemos permitir que as classes dos burocratas de governo e dos políticos profissionais assumam a supremacia e controle das sociedades – vale dizer, a vontade humana da economia de comando não pode prevalecer sobre a invariável e impessoal economia de mercado. A cada um conforme sua necessidade biológica e, após, conforme sua capacidade. Com isso, nosso trabalho de rotariano será reduzido, poderemos nos dedicar mais como consciência da comunidade ao invés de filantropia e caridade. Essa é minha contribuição para colocar o assunto na agenda rotária. Entendo que isso deva ser discutido a exaustão, pela importância e profunda conseqüência que a adoção dessas idéias e conceitos vai gerar. George Bernard Shaw, este fecundo pensador irlandês, pontificou: “ninguém tem o direito de consumir felicidade sem produzi-la e tampouco de consumir riqueza sem produzi-la”. Cada criança que vem ao mundo será solução e não mais problema – voltará a ser uma benção divina.

Celebremos a vida!!!

Ronaldo Carneiro – gov. D4530 – 2008-9 – rcarneiro@salutecafe.com.br

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